Argentina propõe modelo de IVA dual: o que podemos aprender com o caso brasileiro
- Daniela Lavin
- 12 de mai.
- 2 min de leitura
Atualizado: 23 de mai.

O governo argentino está elaborando uma reforma tributária ampla, com foco especial no Imposto sobre Valor Agregado (IVA), conforme anunciado pelo ministro Caputo em declarações recentes à imprensa.
A proposta pretende dividir o IVA em dois componentes: um nacional e outro provincial, com o objetivo de fomentar a competição fiscal entre as províncias.
O governo planeja apresentar o projeto de lei ao Congresso após as eleições legislativas de dezembro de 2025. Se aprovado, o novo sistema poderia entrar em vigor em 2027.
O que é um IVA dual?
O modelo de IVA dual divide o imposto em dois níveis de arrecadação:
Um IVA nacional (federal), equivalente à CBS do Brasil – Contribuição sobre Bens e Serviços.
Um IVA subnacional (provincial e municipal), equivalente ao IBS do Brasil – Imposto sobre Bens e Serviços.
O objetivo é unificar e simplificar os diversos tributos atualmente vigentes, reduzindo a complexidade, a carga administrativa e aumentando a transparência.
Estrutura proposta para o novo IVA na Argentina
IVA Nacional: O governo federal manteria uma alíquota base de 9%, refletindo sua participação na coparticipação federal.
IVA Provincial: As províncias teriam autonomia para definir uma alíquota adicional, até atingir o total de 21%, conforme suas necessidades fiscais.
Objetivos da reforma proposta
Fomentar a competição fiscal: Ao permitir que cada província defina sua própria alíquota, pretende-se estimular a competição para atrair investimentos e aumentar a eficiência do gasto público.
Eliminar tributos distorcivos: A reforma busca substituir o Imposto sobre Receita Bruta (IIBB), considerado regressivo e distorcivo, por um sistema mais justo e transparente.
Ampliar a autonomia provincial: Devolver às províncias a capacidade de definir suas próprias políticas fiscais, fortalecendo o federalismo.
Desafios e considerações
Redefinição da coparticipação: A proposta exigiria uma revisão do sistema de coparticipação federal, pois as províncias arrecadariam diretamente parte do IVA.
Risco de competição desleal: Diferenças entre as alíquotas estaduais podem gerar desequilíbrios e "guerras fiscais".
Consenso político: A proposta requererá aprovação do Congresso e apoio das províncias, exigindo articulação e alinhamento.
O Brasil como referência: como funciona o seu IVA dual?
Em janeiro de 2025, o Brasil aprovou a Lei Complementar 214/2025, instituindo seu modelo de IVA dual. O novo sistema substituirá gradualmente:
PIS e Cofins (federais)
ICMS (estaduais)
ISS (municipais)
Parte do IPI, substituída por um novo Imposto Seletivo
Após mais de 30 anos de discussão, a reforma terá o seguinte cronograma:
2026: CBS e IBS incluídos nas notas fiscais eletrônicas (sem efeito fiscal).
2027: Entrada em vigor da CBS e IS; eliminação do PIS/Cofins.
2029–2032: Transição gradual do ICMS/ISS para o IBS.
2033: Sistema plenamente implementado.
O que podemos aprender com o caso brasileiro?
Embora ainda cedo para avaliar os resultados, destacam-se alguns pontos:
Simplificação real e gradual: O Brasil optou por uma transição de sete anos. A Argentina deve seguir um caminho semelhante para evitar choques econômicos.
Coordenação intergovernamental: O Brasil criou um Comitê Gestor do IBS. A Argentina também precisará de forte articulação política e técnica.
Infraestrutura tecnológica: O Brasil está construindo a Plataforma Nacional CBS/IBS (SERPRO) para centralizar dados e validações. Isso será essencial também na Argentina.
Nova cultura de compliance: O novo sistema prioriza dados estruturados, conciliação automática e transparência. As empresas precisarão adotar soluções tecnológicas para se adequar.